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Capítulo III


Enquanto a lucidez está fresca na memória, eu incrivelmente não consigo dormir. Nos dias passados não tive grandes aborrecimentos que justificassem minha falta de sono, apenas sabia que algum motivo pertinente acabava por me incomodar.
Levantei, fui até a cozinha e tomei um café. Olhando através da janela obtive uma resposta imediata para o meu questionamento: A luz do quarto de Maria estava acessa, logo, ela também permanecia acordada.

Sem muito pensar coloquei os chinelos, peguei as chaves e caminhei apressada em direção a Rua Vertigem, e ao chegar no nº. 214, pulei o muro, como fiz tantas vezes.
Debruçada na janela de madeira pude ver pela fresta, Maria sentada na cama a gargalhar. Contudo, se ela gargalhava, porque eu sofria? De onde vinha essa angustia sufocante senão da própria Maria?
Decidi ficar sentada ali, assistindo o filme com ela, e quem sabe ser afetada por tal alegria. Não demorou muito para que pudesse perceber que o filme se tratava de uma típica comédia romântica, os preferidos de Maria. Ela poderia passar dias seguidos assistindo filmes desse gênero, seus olhos brilhavam a todo o momento. A cada filme ela era tomada por uma esperança ridícula de um dia ser donzela de todos aqueles mocinhos, pura ilusão barata. No entanto, eram os sonhos dela o que eu podia fazer? Continuar assistindo, e era o que estava fazendo.

Como de costume,ela riu no começo e chorou no final, só que dessa vez eu senti aquela dor, a mesma dor que Maria sentia, bastou uma nota para que ela pudesse identificar a musica, a mesma musica de um velho filme, e não era um filme qualquer, era o seu filme. O filme dela, e do João.

Tudo agora se explicará. A minha falta de sono, a angustia, o que me levou até Rua Vertigem naquela noite, era ele, o João. Como fui tola de me locomover do conforto do meu lar para inalar a dor alheia.Até quando ela suportaria?Eu não estaria disponível todo tempo para dividir o peso da perca, o peso da lembrança, o peso terrível do passado bom.

Ao desligar a tv ela se deitou, e adormeceu vencida pelo choro desconsolado. Nesse momento me levantei, sacudi as vestes e em passos curtos e rápidos voltei para casa.
Sabendo que ela dormia, eu enfim consegui dormir.

2 comentários:

  1. Nossa!!!!

    A Maria e A Autora passam por situações parecidas.

    Uma perdida nas lembranças de "um passado bom", mas morto.
    A outra perdida na audencia de um passado, de um presente.

    A FALTA.

    Qndo o livro estiver pronto tenho certeza de que vou chorar lendo a historia da Maria.

    Bejo Parcera

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  2. Ah! Decidido assim?
    E se eu não tiver agenda? hahahahaha
    Lindo o texto! Quero ler o tal do livro...já com capa dura por favor,rs.

    Mas voltando ao assunto: Arte.
    Arte "adonde"?
    Na Unisa? No Bar da Unisa? No Bar da Unisa tomando cerveja? hahahha

    Beijos vizinhaaaa!

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